sexta-feira, 4 de julho de 2014

8º dia: Figueira da Foz - Praia do Pedrogão

Dia 8 - Figueira da Foz - Praia do Pedrogão
Total do dia: 50 km
Horas a pedalar: 3h 41 min
Total km acumulados: 328,7 km
Total horas a pedalar: 23h 43 min



Hoje acordei com um grande mau pressentimento, que nada tinha que ver com uma ameaça abstrata e inconsciente mas sim tudo com o facto de termos que atravessar uma ponte infernal e termos pelo menos 40 km para fazer. E não me enganei, no que à ponte infernal diz respeito.

A ponte sobre o Mondego na Figueira, passagem incontornável para quem quer seguir para sul, tem tudo o que uma ponte auto-estrada tem, menos o facto de ser uma auto-estrada: ausência de bermas, duas faixas de cada lado onde os carros aceleram para caraças, elevada concentração de camiões, uma entrada que se tem que ir ao bilhar grande dar a volta primeiro, e uma altura do caraças.


Ar de "Ponte 25 de Abril". Minha rica ponte de Aveiro com ciclovia.

No entanto, sabíamos que a ponte tinha um passeio. Mas quão expectável era que no meio do complexo eixo rodoviário para entrar na ponte, em que se cruzam ICs, auto-estradas e a estrada nacional 109, conseguissemos nós abrandar o suficiente, ou mesmo parar, para entrar no passeio a tempo? E teria o passeio espaço suficiente para andarmos com as bicicletas? Eram só dúvidas numa parte do trajeto onde não podíamos vacilar sob pena de levar com um camião em cima. Literalmente.

E por falar em levar com um camião em cima, quando pesquisei no Google "ponte da figueira da foz bicicletas", este foi o primeiro resultado que me apareceu:


Fez maravilhas pelos meus nervos.
Foi a primeira vez que eu pensei em desistir desde que começámos a viagem. Agora em retrospetiva parece ridículo, mas a ponte da Figueira afigurava-se como um obstáculo intransponível, tão lá alto, tão lá em cima, tão inacessível a bicicletas. Enquanto passávamos o porto da Figueira passou-me pela cabeça dar uma guinada para lá e perguntar se não havia táxis marítimos, alguém com uma lanchazinha que nos levasse até ali à outra margem, por favor!
Não guinei. Usámos o GPS para encontrar o sítio do eixo rodoviário por onde se entrava para a ponte e gastámos nisto 10 km. Aquela porcaria é mesmo complicada. Na ponte propriamente dita, e uma vez que havia pouco movimento, saltámos os rails, passámos uma bicicleta de cada vez para o outro lado e fomos calmamente no passeio durante toda a ponte.



Nem consegui apreciar a vista como deve ser, a altura pôs-me nervosa (o sorriso é nervoso).
Logo a seguir ainda há mais uma ponte mas esta bem mais manejável: baixinha, pequena e com bermas largas.

(foto retirada da internet)

Nada que ver com a ponte infernal:

(foto retirada da internet)

Passadas as pontes, continuámos pela N109 afora. Uma estrada nacional completamente diferente do que tínhamos apanhado até aqui pelo tráfego enorme, pelos camiões abundantes, pelo pinhal dos dois lados e pelas raparigas à beira da estrada. Muito desconcertante.
Ainda nos enganámos a cortar à direita uma vez - acho que estávamos mesmo ansiosos por sair dali - e fomos bater com o nariz no portão de uma enorme fábrica de papel.


Os camiões carregados de troncos de madeira tinham razão de ser.

Após mais uns poucos quilómetros na N109 lá cortámos para uma estrada que nos levaria mais paralelos e próximos ao mar, para onde teríamos que cortar mais abaixo.



Que diferença ir por lugarejos em vez de pela monótona N109! Até comprámos pão acabadinho de fazer numa padaria local.
A partir de certa altura, e nos 25 km finais, entrámos em mais uma Estrada Florestal. Esta foi bem mais cómoda e interessante do que a estrada homónima até à Figueira, na medida em que a vegetação variava dos eucaliptos, o piso estava em condições, e a paisagem era bem mais bonita.






Ainda tivémos direito a ciclovia durante uns 15-20 km!

Sabíamos que iríamos fazer perto de 50 km de uma vez por isso íamos devagar, sem pensar no que faltava, gozando a paisagem, na boa. Acho que os corpos já estão habituados ao massacre diário, desde que não haja subidas valentes umas a seguir às outras, mais 20 km menos 20 km, é-lhes indiferente.
A uns 10 km da Praia do Pedrogão passámos pela belíssima Lagoa da Ervideira, um lago enorme no meio da Mata do Urso mas à beirinha da estrada, e onde aproveitámos para comer o pão acabadinho de fazer.


Não há sentimento mais glorioso do que cortar para o destino final do dia, após uma porrada de km em cima das pernas, e ver o mar lá em baixo, brilhante do pôr do sol que se aproxima. É sempre a descer, no nosso caso, o que só aumenta a glória desse momento. Impagável. E queria eu desistir por causa de uma pontezeca. Pff.



S.

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