terça-feira, 11 de março de 2014

A casa dentro de uma mochila

A seguir ao transporte das bicicletas até à casa de partida, a bagagem é a questão mais delicada a ponderar. A razão é muito óbvia: tudo o que decidirmos levar será um acréscimo ao esforço que teremos que fazer para nos deslocarmos.

É olhar para mais um par de sapatos ou umas calças e pensar assim: será que vales o esforço de te arrastar comigo por 1000 km?

Eu considero-me uma pessoa muito desprendida de coisas (ainda há uns meses vendi/doei um terço da minha roupa só porque não me apetecia mudar de casa com ela) por isso não antecipava grandes problemas nisto de escolher o que levar. Aliás, há até qualquer coisa de muito libertador (e feminista, absolutamente) em pensar na roupa como uma coisa estritamente utilitária, em só embalar coisas que me vão servir um propósito muito simples, que é o de me facilitarem ao máximo o bicicletar. Antecipo que seja hilariante a sensação de carregar às costas tudo o que preciso para ser feliz durante um mês.

Mas (sim, claro, há um "mas"), uma pessoa ainda assim precisa de se vestir. E indo fazer um esforço físico de várias horas diárias, todos os dias, é coisa para se precisar de várias mudas de roupa. E temos que levar uma tenda e sacos de cama. Ou seja, eu estou preparada para carregar só o essencial, mas não faço ideia quanto pesa e que espaço ocupa o essencial. Daí que as minhas pesquisas de malas de bicicleta por essa internet afora fossem sempre demasiado inconclusivas; as capacidades estão em litros, eu sei lá de quantos litros precisa o meu essencial.






Depois há outra questão, que é: onde meter a porcaria das malas quando andamos a passear ou quando queremos ir à praia? Levamos connosco? Não dá jeito nenhum andar com 40l de coisas atrás, especialmente naquelas bolsas que não estão muito preparadas para serem carregadas por pessoas, só por bicicletas. E deixá-las nas bicicletas não parece muito boa ideia. Posso não ser pegada a coisas mas ainda assim preciso de "umas coisas" para sobreviver. E ser roubado, num sítio desconhecido, não é fixe.

Até que o D. disse que só precisava de uma mochila e eu fiquei a contemplar o que é que eu conseguiria enfiar numa mochila. E, após muitas horas de reflexão, sinto-me muito tentada a afirmar que, se calhar, também eu conseguiria sobreviver um mês só com o que couber numa mochila. Seria carregar a casa às costas, literalmente se conseguir lá enfiar a tenda também. Seria o fim dos problemas de andar com tralha atrás, onde deixar a tralha, adaptar as bicicletas a poderem transportar tralha.

Tudo pela comodidade, tudo pela comodidade. Ainda assim, há o problema do suor e das mudas de roupa.

Que nunca foi problema, realmente. Isto porque nós só tínhamos duas opções, desde sempre:

1. Levar 30 coisas de cada espécie de roupa (30 t-shirts, 30 calções, 30 meias...) cada um;
2. Levar umas mudas de cada espécie e ir lavando pelo caminho.

Se todos os campismos têm máquinas de lavar e secar roupa e se nós não temos um atrelado nem força ou vontade para transportar 60 mudas de roupa, é fácil concluir qual delas depressa ganhou.

Portanto, o assunto da roupa está arrumado. Umas três ou quatro mudas cabem à vontade numa mochila. É afinal o que tenho feito nos últimos dois anos de viagens curtinhas pela Europa (mais uma vez, há qualquer coisa de hilariante em viajar para um sítio qualquer a milhares de quilómetros de casa só com uma mochila às costas).

Pouco mais do que um fato de banho e uma toalha (microfibra, das extremamente levezinhas) será o que precisaremos para ser felizes quando não estivermos no selim.

A tenda e os sacos de cama serão o mais volumoso a considerar, mas com boa vontade e umas boas cordas se for preciso tudo se arranja. De resto, comida encontrar-se-á facilmente (o facto de o litoral ser a zona do território mais povoada traz esta grande vantagem) e coisas como champôs e géis de banho há em miniaturas catitas que ocupam pouco espaço. E nós não precisamos de produtos para ele e para ela. Já prometi ao D. que usar o mesmo champô que ele não me fará começar a gostar de futebol.

Sendo assim, está a modos que decidido que levaremos uma mochila cada um e lá nos aguentaremos. Sexta-feira vamos pesquisar equipamento de ciclismo que antecipo que seja uma odisseia muito engraçada. Inclui calções de lycra almofadados e t-shirts verde flurescente a dizer "Volta a Portugal em Bicicleta". Não, mentira, estou a brincar (ou será que estou?...)




S.

10 comentários:

  1. Ainda têm muito que pedalar ate chegar a algumas conclusões de espaço sem duvida...mas lá que admiro a determinação...admiro!!

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    1. Exato. Acho que vamos acabar por levar uma ou outra coisa supérfula e vai-nos fazer falta qualquer coisa que não levámos. Nada que a proximidade constante de sítios onde comprar coisas não resolva.

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  2. Ahoy!
    espreita aqui:
    http://www.publico.pt/local/noticia/chef-rui-paula-desafiado-a-conseguir-estrela-michelin-para-a-casa-de-cha-da-boa-nova-1628611#/0

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    1. Ena, não sabia que era possível uma casa de chá ter estrelas Michelin. Esse restaurante/casa de chá está na nossa mira, sim ;)

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    2. :) Suponho é que os preços não devam ser apetecíveis, mas podem sempre fazer batota e entrarem só para verem. Aquilo chama-se casa de chá mas quando lá fui não tinha "chá". Era só restaurante de almoço e jantar. Agora suponho que também vá ser.

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  3. Mochilas não são boa ideia para andar de bicicleta mais do que uns quilómetros, principalmente no verão. Os sacos são a melhor opção, mesmo que coloquem o problema dos furtos. Os sacos cama podem atar à bicicleta, a tenda já é mais complicado. Se optarem por material de campismo de motociclista (mais caro mas muito mais leve) torna tudo mais fácil. Eu invista também em bons cadeados para as bicicletas, para evitar amigos do alheio.

    Boa roupa de ciclismo (calções, camisolas e casaco) são essenciais. Para homem há muita escolha (a da Decathlon tem uma boa relação preço/qualidade). Para senhora, pelo menos por Lisboa não consegui encontrar nada de verão. Podes tentar esta marca (http://www.cofides.com/), enviam pelo correio e é possível trocar sem qualquer problema. Os calções são extremamente confortáveis.

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    1. Ana, obrigada pelos conselhos. A nossa ideia era encontrar uns sacos normais de bicicleta que se transformassem em mochila, para poderem ir no suporte atrás e serem transportados às costas facilmente quando não estamos a pedalar. Já vi umas coisas desse tipo na net, embora só em site americanos e tudo para cima de 200 e tal dólares. A alternativa será ou conseguir atar uma mochila no suporte ou adaptar um saco de bicicleta com uma alça para poder transportar ao ombro ou assim. Estamos a estudar o caso.

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  4. Não quero ser negativista, mas agora essa do cadeado lembrou-me que roubaram a bicicleta à minha irmã numa estação de comboios... ela deixava lá sempre todos os dias e houve um dia que puf, quando voltou não estava lá. Ela tinha cadeado, claro.
    Acho que prevenindo, o melhor será talvez não deixar as biclas sem supervisão durante muito tempo...

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    1. A nossa intenção é não deixar as bicicletas muito tempo sozinhas. Mas no parque de campismo durante a noite, por exemplo, vão ter que ficar. Não podemos levá-las para dentro da tenda. Os relatos de ciclistas que já fizeram tours de vários dias diziam que atavam um fio da bicicleta ao pé durante a noite para se ela fosse mexida acordarem imediatamente. Não sei até que ponto isto é eficaz mas, de uma maneira ou de outra, algum risco corre-se sempre.

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    2. Atar um cordel :D
      (mas num parque de campismo não deve haver problema, são locais fechados e normalmente criam-se relações instantâneas de vizinhança que quebram as "amizades pelo alheio"; eu desconfiava mais de sítios abertos, onde qualquer pessoa possa circular anonimamente)

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