terça-feira, 1 de julho de 2014

4º dia: Furadouro (Ovar) - Aveiro

Dia 4: Furadouro - Aveiro
Total do dia: 36,1 km
Horas a pedalar: 2h 34 min
Total km acumulados: 192,7 km
Total horas a pedalar: 13h 55 min





Portanto, o 4º dia foi mais ou menos dividido entre uma espécie de paraíso e inferno, sendo que, infelizmente, a parte do inferno correspondeu à parte em cima do selim. Mas vamos à parte do paraíso primeiro.
Acordámos por volta das 8h30, porque na tenda já fazia muito calor e porque começaram a montar uma tenda mesmo ao lado da nossa, com todo o barulho que isso envolve. Era um casal que havia chegado e que queria ficar ao pé dos nossos vizinhos, e que nós, parafraseando "já lhes havíamos roubado o lugar". Eu acho que a vida em campismos dava um estudo sociológico brilhante porque há com cada personagem e situação que não lembra ao diabo. Coisas fascinantes, do género levar a parabólica da Zon para as férias ou varrer a entrada da tenda. Eu sei que sou eu que sou a novata nisto de acampar mas sempre imaginei que campismo era sinónimo de contacto com a natureza e assim. Continuar a ouvir o telejornal da TVI todos os dias não me parece muito compatível com o sair da rotina, mas quem sou eu para saber destas coisas.
Acordámos e decidimos que queríamos ir à praia. Não importa que tenhamos 42 km para fazer hoje, o chamamento da praia a 300 m e do dia soalheiro foi mais forte.
Foi a parte paradisíaca do dia. Uma praia boa e mesmo pertinho do campismo, tralhas arrumadas, só uma mochila pequenina e os pés para nos movimentar (nada de bicicletas por um bocadinho, viva!). O mar estava mesmo fixe, maré vazia mas com ondas, o sol queimava mas não abrazadoramente.


Primeiro banho de mar do ano :) (Knokke não conta)


Nada de bicicletas por agora.
Toma-se banho, almoça-se, arruma-se as coisas, estamos nisto até às cinco da tarde. Na pior das nossas previsões, chegaríamos a Aveiro por volta das 21h. Estávamos tranquilos porque sabíamos que o caminho era sempre junto à ria de Aveiro, portanto plano, e contávamos que houvesse ciclovia pelo menos em parte dele. Sabíamos que em S. Jacinto, no fim daquela espécie de península que começa em Ovar, teríamos que apanhar o ferry até à Gafanha da Nazaré, e pedalar mais uns 10 km até Aveiro, com ponte pelo meio.
Demasiadas coisas diferentes. Acho que tudo o que podia correr mal, correu. Com soluções que foram logo arranjadas, mas ainda assim, muito sofrível.
De referir que o GPS do iPhone é agora uma espécie de nosso melhor amigo, agora que já não há estrada nacional 13 para ninguém e o caminho é em algumas partes mais manhoso. A saída do Furadouro, até encontrarmos a nacional que nos levaria a S. Jacinto, foi uma das situações em que ele nos simplificou muito a vida.
Rapidamente se começa a descortinar a ria de Aveiro que seria a nossa companheira até ao ferry em S. Jacinto.



"Aah, tão bonito! Olha este lago enorme, a perder de vista, e esta estrada de bermas largas, tão plana e reta até ao que os olhos alcançam, que sorte!"
Foi isto os 3 primeiros quilómetros. Porque a verdade é que estes cerca de 25 desde o início da ria até a S. Jacinto foram os piores da viagem até aqui. Dores no rabo em que cada pedalada é renovação da dor, não conseguir assentar de nenhuma maneira confortável porque não é músculo nem pele, é mesmo o osso que já não suporta aqueles bancos, e a porcaria de uma estrada tão plana que nem dá para pedalar em pé, e tão reta que não serve para distrair da dor. E a merda do lago sempre ali ao lado, que nunca mais acaba. Cada curva ligeira no caminho era uma alegria, só por quebrar a monotonia. Os quilómetros custavam a passar, tive que empregar todos os truques mentais que aprendi com as corridas longas para obrigar o corpo a avançar mais um quilómetro de cada vez. A festa foi grande quando passámos a placa em S. Jacinto.


Antes disso, vimos muitas placas com marisco estranho a vender:


E durante alguns quilómetros, ficámos contentes por seguir em ciclovia, tanto que pensávamos que ela duraria até S. Jacinto:



Afinal não... Esta parte que acaba abruptamente num campo de silvas suscitou muitas gargalhadas a estes dois turistas e uma inversão de marcha forçada.
Nestas pequenas distrações, ainda tivemos a ponte que liga a península a Estarreja e mais além a Aveiro, que para nós acresceria uns 50 km de trajeto.


Chegados finalmente a S. Jacinto, estávamos cegos para tudo o que não fosse placas a dizer "ferryboat". Depressa encontrámos o sítio, só para sermos informados por locais que o ferry já não transportava bicicletas há uns meses. Isto porque um ciclista pediu indemnização à empresa do ferry por a sua bicicleta ter tido a pintura riscada durante uma viagem. (Gostava de saber se também deixariam de transportar passageiros se uma pessoa reclamasse por ter esfolado um joelho e pedido indemnização. Não me parece que "por um, pagam todos" seja a melhor política a adotar nestes casos.)
Imaginem a nossa incredulidade por saber que o nosso ferry para a travessia para a Gafanha não dava e que a passagem mais perto para Aveiro demoraria uns 70 km a percorrer. Maldita ria.
Informaram-nos depois que havia uns táxis marítimos que levavam passageiros e bicicletas para o outro lado e que era só esperar junto a um. Solução fácil para o que nos estava a parecer uma espécie de catástrofe.



As nossas ricas acomodadas na lancha :)


A minha cara de felicidade pelo fim do calvário já estar à vista e ainda termos direito a passeio de barco.
Mas ainda faltava um bocadinho para o calvário terminar. Isto porque a ponte que liga a Gafanha da Nazaré a Aveiro, é uma ponte de auto-estrada (a A29, salvo erro). Ora, a outra ligação é só mais a sul, que implicaria uns 10 km adicionais para nada. Mas o Google Maps, mesmo em modo de caminhar, mandáva-nos pela ponte da auto-estrada. Eu tenho um medo que me pelo de entrar numa auto-estrada sem querer, é o meu medo número um nesta viagem. Por isso tenho as antenas bem sintonizadas para evitar placas azuis, e placas de proibido bicicletas, peões, carroças e tratores. Desta vez, tivemos mesmo que fazer um desvio para uma ruela ao avistar um desses últimos, logo após a rotunda que dava para a ponte da auto-estrada. Ai, ai, ai, e agora.

A nossa sorte foi avistar um sinal que é a nossa maior alegria:


Ou seja, para a mesma saída na rotunda que indicava a A29 em direção a Aveiro, havia um sinal daqueles. Mas como é possível que numa auto-estrada circulem peões e bicicletas?! Intrigados, decidimos tentar, pela indicação tão obviamente dirigida a ciclistas.

Acho que íamos começando a chorar quando reparámos que sim, havia ciclovia, paralela à auto-estrada, e na mesma ponte em direção a Aveiro, e que estávamos agora a uns meros 3 km da nossa dormida, em vez dos 12 que ainda pensávamos ter que percorrer.



É de louvar esta construção que serve toda a gente que não é automobilista, numa parte de Portugal tão plana que chega a irritar.
Vamos portanto agora dormitar em Aveiro e descansar durante o dia de amanhã. É bom que a cidade valha mesmo a pena.



S







7 comentários:

  1. É pá, isto está a ficar mais emocionante que uma telenovela!
    E hoje de manhã senti a ventania e a chuva e pensei: coitados, nunca mais apanham bom tempo, mas ao menos está vento Norte, para ajudar ao embalo :)

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    1. Está a ser muito intenso, é verdade. E o vento de vez em quando ajuda :)

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  2. ia dizer exactamente o mesmo que a Gralha! que roller coaster de emocional! o meu coração já acelarou e desacelarou mais que um daqueles ferraris que vão dos 0 aos 100 em micro-segundos heheheeh

    Aqui em Lx parece que vai chover hoje (ou já choveu e eu não vi que está há 6 horas enfiada no escritório). Espero que aí mais para cima se mantenha mais estável!

    Boas pedaladas!! (quanto ao rabo, vocês não levaram um daqueles coisos que se prendem ao selim, almofadado ? isto para além dos calções almofadados elásticos, que se podem por baixo dos calções normais, acho que ajudava um pouquinho? se não, têm sempre a solução à pro da volta à frança: um belo bife de vaca!!(para por no rabo,não para comer)

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    1. *roller coaster emocional
      *que estou há

      (e aproveito para dizer que ambos têm umas caras muito simpáticas! é giro ver assim os sorrisos ao vivo, a comprovar que a viagem está a ser tão fenomenal como parecia quando ainda iam na fase dos planos)

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    2. Nós só temos os calções almofadados que não fazem grande diferença, para dizer a verdade. Ou então são os nossos que não são grande coisa. Estamos à espera que isto fique calejado, não pode doer o resto da viagem!

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    3. rasparta, tinha escrito uma resposta catita e acho que me enganei a clicar para publicar.

      bom, era qualquer coisa como: se os profs do ginásio conseguem dar tantas aulas de spining sem sofrerem, vocês de certeza que também vão conseguir rapidamente ficar com esse necessário calejamento para não sentirem dores
      .

      :)

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  3. VIAGEM EMOCIONANTE, ESTAO A ME DAR IDEIAS, BEM HAJAM.

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